quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

PURULENTO

Aos sopapos com o acaso
Sinto o sangue agudo em meus lábios,
O falar não materializa
Uma alma corroída pelo alcool

Em meu nariz uma nota
Morta e niilista
Uma ode suicida aos poucos
Nosferatus que me restam

Por entre a fresta em teus seios
Minha língua dormente
Cheia de cálcio em lava

Meu pau em disparate
Funde prepúcio e a pele
De seus bicos

Amor circuncidado em pó
Andarilhos pubianos
Chatos narcisistas
Por entre o âmbar podre e amargo

O suor hipotérmico funde
Um querer arrebatar
Teu corpo purulento
Junto ao meu eternamente.....

terça-feira, 30 de novembro de 2010

PRIMAVERIL....

Estou cansado de gente
Gente inocente,
que não mente
ou não mostra os dentes.

Cansado de gente
branca, preta, amarela, azul e vermelha
Gente que não sangra.

Cansado de gente
que vai até certo ponto.
Vomita abandono,
Que não se move

Estou cansado de gente
sem ventrículo, sem aorta,
gente que não defeca.

Cansado dessa bandalheira
sem bandeira,
que vive a se chupar.
Cansei de gente que faz média.

Sem café, leite ou pão
que copia a cópia da cópia da cópia,
gente que não se abala.

Que cambaleia uma cabala,
sem frescor da fúria.
Estou cansado de gente
que quer controlar;

O que se vê,
se ouve,
o que se trafica

Quero gente que escarre
que se abale
com o desenho animado,
com a saliva do fellaccio.

Estou cansado de gente que não ouve rádio....

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

COMPÊNDIO SOBRE MINHAS MENTIRAS....

Pelo meio do tormento
Podia ver a névoa métrica,
Açoite em trova
Por espaços onde minhas mãos
Haviam de congelar.

Tropegamente atento as inverdades
Do dizer de uma alma que pulsa
No vácuo deixado pelo inexato
De milhares de verdades múltiplas.

Não sabe-se quais são as reais
Por viverem ao mesmo tempo,
Sensações de isquemia de cátodos
Escondendo um eu miserável,
Que só é real quando adormeço.

Por ser suposto humano roto,
Minhas almas maculam o nada
Sustenidas por um corte no absurdo
Pulsando sangue de uma vida vazia e inexata.

Onde diferentes seres clamam
Um óbvio respiratório divino
Pedindo arrego de um corpo,
Usado por milhares como morada.

-----------------------------------------xx--------------------------------------------------

Sou um mentiroso
Por entre minha língua
Vosciferam almas de outros seres
Que pedem liberdade mórbida.

Mártir de uma nação
De uma só morada em pele
Aberta a inverdades
Contadas pelos que habitam o invólucro

Epiderme que sublima
Ânsia inanimada
Por caminhos que outros traçaram
Dentro de mim...

Movimento em sépia
Descoberta harmonia do nascer
Em mentiras cravadas
No mais catársico sol

Não há saida fácil
Por mundos didáticos,
Onde o amar
escondeu-se......

----------------------------------------------------xx------------------------------------------------------

Trôpego vagão afável
dilacerando minha paranóia
Hipocôndrica inércia
é dona...

Seus pés não mais movem,
por trilhos elétricos na
estática de uma voz de
Anunciação...

Amontoado de almas
em olhares inertes,
Botulismo de abdomen me impede
distrai-me da simbologia,
de perde-se do mentir em forma
De tarot estranho....

Em prioridade o tacanho,
emana maledicências
Do que perdi...

Uma vida.....

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

DESABAFO

Eu sempre acho que ninguém lê nada que aparece no GD. Mas para minha imensa surpresa, tem gente que o faz. E muito mais do que isso, acaba escrevendo para esse sacripanta blogueiro (olha a palavra proibida hihihihi), com sugestões e até textos.
Esse aqui chegou ontem via e-mail e eu achei de uma poesia tão bonita e visceral, mesmo parecendo uma nota em diário, que achei que deveria ser publicado nos entrecantos. Pois esse é o objetivo.
Então sem mais delongas, senhoras e senhores o texto de nosso(a) leitor(a) anônimo(a):

Eu era feliz. Minto. Eu era muito feliz.
Os segundos da minha vida foram passando e eu senti a felicidade saindo por cada poro do meu corpo.

Quando meu pai saiu de casa pela primeira vez, aprendi que nada dura para sempre.
Quando minha mãe destruiu a casa, aprendi que as pessoas perdem o controle de suas emoções.
Quando meu pai voltou, aprendi que se conformar não faz bem.

Nunca me conformar talvez tenha sido a lição mais valiosa que aprendi.
Não me conformo com maldades.
Não me conformei quando os olhos diziam "te odeio" e as mãos no pescoço me tiravam o ar.
Não me conformei quando dei meu último suspiro.
Não me conformo com mentiras.
Não me conformo ser responsável por verdades alheias.
Não me conformo com a inveja.

Um dia me disseram que eu sorria demais.
Nesse dia eu ainda acreditava nas pessoas.
Nesse dia eu não tinha medo das pessoas.
Hoje eu vejo a mentira, a maldade e a inveja.
Hoje eu tenho a mentira, a maldade e a inveja.

Não sorrio.
Choro.
Choro porque me conformei.

Me conformei que só posso ser feliz em segredo.
Me conformei que as pessoas mentem felicidade.
Me conformei que há pessoas que fazem maldades gratuitas.
Me conformei que cansei.

Cansei da mentira.
Cansei da maldade.
Cansei da inveja.
Cansei das pessoas.
Cansei de mim.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

JUST 'COS YOU FEEL, DOESN'T MEAN IT'S THERE

E naquele momento todo seu corpo pareceu desaparecer de uma vez só no caminho do banheiro. Deparou-se com o espelho, ele lhe sorri e responde:

"Se está lá, não é verdade. Você pode estar enganda bela adormecida, as coisas não são assim. Você pode esperar pelo momento certo para se livrar desse corpo. Pode esperar mais um pouco e sentir toda a escala ritcher passando pelo seu corpo. Porque estar lá não quer dizer que existe".

E assim sua memória saiu por entre a fresta da porta que a essa altura já se iluminava com os primeiros raios rosas de uma manhã de julho. Virou-se encarou o espelho e enxergou-se na sala de cirurgia. Onde sua mãe a segurava por entre as sobras de clara fetal e cordão umbilical.
"Não poderia ter sido assim. Eu lembro como ela era, a toquei. Foi minha primeira mulher. Senti seus seios por entre meus lábios. Eu deveria saber com e quem seria minha primeira experiência somato sensitiva.
Porque eu não me lembraria desses dois botões?
Como não associar pele e pessoa?"

Mas não lembrava, por mais que perguntasse para aquele espelho fétido, não havia resposta. E ao colocar suas mãos nas frestas sentiu o vidro tomar conta de todo seu corpo.
Fazendo-a arrepiar, deixando o vidro escorrer por entre suas mãos. Entrando por sua boca até fazer com que sua garganta fosse invadida pelos estilhaços e se calasse com todas as dúvidas.

"Quem era ela, quem sou eu?????"

Enfim sentiu-se pronta.
Certa de tudo o que faria, já sabia a sequência. Era só pegar a navalha e cortar o pescoço (afinal de contas os pulsos só iriam tornar-se um problema maior se ele acordasse).
Por isso seria rápido e kobainiano, tudo que ela sempre quis era descobrir-se.
Mas "just ´cos you feell , doesn´t mean it´s threre".
Ela escuta então um sussurro em seu ouvido ao entrar pelo banheiro:

"Não vá, eu te amo".

Ele adormecido tocava seus dedos nas bordas dos lençóis cálidos, estava bêbado demais ou de menos para poder dizer isso.
Mas ela não queria saber. Coma induzido por alcalóides agora não. A voz novamente interrompe as nuvens de pensamento: "Eu te amo".
Isso não existia, mas ficou claro quando viu do espelho sairem artelhos agarrando sua mão.
Parou por um instante a última caminhada. "Será que é ela?".

"Ela me achou e eu nunca consegui, será que deus é muito mais que apenas Andy Kauffman?
Será que isso pode acontecer, ela vira-se e diz: Mãe!?".

Nenhuma voz mais responde. Sozinha como sempre, desde os tempos onde escondia-se embaixo de uma escada. Atrás dos óculos de aros grandes desafiando o equilíbrio nasal. Quando sentava sozinha enquanto todos os meninos riam da sua cara lhe dizendo que nunca iria ser aquilo que queria.
Porque havia nascido ao contrário.
Lembrou-se daquela escada, a primeira figura paterna de sua vida.
Por entre todos os degraus de madeira de lei, decorados por arabestos em cor de ferro número 5. Lembra de todos os desenhos desconexos que o desgaste das grades formava e de como eles sempre lhe sorriram e diziam: "Não te preocupes, isso vai passar".
Enquanto os garotos da escola a chutavam, desprovendo sua feminilidade como se fosse um saco de lixo.
Fazer com que ela se sentisse um nada. Todos os socos e vezes que rasgaram o Sartre que lia.
Por mais que sua garganta clamasse, tudo era abafado pelos escárnios das meninas que a chamavam de anormal. Zombavam enquanto ela se escondia dentro do banheiro, desejando um teletransporte rápido.

Desde sempre ela não entendia como era diferente. Como todas as vezes que parava em frente a uma planta ficava maravilhada com as cores que saiam pelas suas pétalas e de como tudo fazia tanto sentido em cada estática métrica de epiderme. Era como se estivesse ligada a Neo. E ele à ela (follow the white rabbitt). Ia até as profundezas e sentia toda a energia de já saber como era maravilhoso nascer menina.
Todas as nuances, por mais pequenas que fossem, eram maravilhas dentro de um pequeno corpo. Sabia que todas as canções eram feitas pra ela, porque podia sentir em cada nota todo o amor e desespero. Todas as consequências de doar-se dentro de uma cantiga de amigo ou até de um bolero de Ravell.
Era isso que ela sabia, que era uma menina. Sozinha desde os seus 8 anos, execrando cada pedaço de sua pele branca que crescia tornando-se envoltório de um corpo esguio. Fazendo com que seus olhos e cabelos negros, fossem duas imagens de satélite guiadas pelo amor de Lou Reed. Mas ela tinha apenas amigos em livros e nos espelhos, que nunca refletiam nada.
Apenas diziam:
"Just ´cos you fell it doesn´t mean it´s there".

Andy sentado embaixo do rodapé da porta lateral da cozinha, acende um cigarro e ajeita a aba do boné vermelho escrito Mudhoney. Sabe que o namorado dorme, mas não importa-se.
Traga e de sua fumaça um arcanjo negro desenvolve círculos dentro do vácuo de ar do banheiro. Ele abre suas asas e a envolve, tocando o sexo dela por demorados segundos. Andy sorri e cerra seus punhos, o arcanjo se dissolve em moléculas de pétalas ao redor da figura de menina, que solta delicadamente a navalha na pele de seu braço e desenha a palavra livre.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O ARPÉGIO DOS PEIXES ESTRANHOS

E ela já sabia desde sempre o quanto ruim o mundo poderia ser, mas foi essa percepção que a salvou.
Não apenas a escada. O sangue ainda é fresco e com sabor de novo, mesmo tendo se passado tanto tempo daquele dia de outubro.
Onde sentiu pela primeira vez como é ter sua carne cortada pela audácia malvada de outra menina.

Ela lembra-se de todos os detalhes, a voz esganiçada lhe dizendo todas as palavras que pesavam em seus ouvidos. Todos os gestos que a faziam lembrar que ela não tinha um reflexo, apenas a silhueta de um seio. Em sua boca, para alimentá-la, os toques exageradamente bruscos. Em direção de seu rosto, o corte por entre suas sombrancelhas e pálpebra. Fazendo-a derramar aquilo que fazia dela alguma coisa, algo em que se apoiava.
Seu dna, sua marca espalhando-se por entre seu rosto e pingando no chão. Desesperado para ser parado, coagulando toda a sua insentatez. Deixando que todas as hemácias levassem aquilo que era mais importante embora.

Ela se lembra de ver todas as meninas indo embora cuspindo pelo chão e em especial uma última que ao sair fez com que a saliva dela se misturasse ao seu sangue no chão. Mostrando que apenas a mistura do escarro a faria uma igual e mesmo assim cheia de cortes.
Foi aí que as coisas tornaram-se mais claras.

Através de todo o sagramento ela se abaixou e começou a desenhar traços vermelhos e brancos.
Apertava cada vez mais o corte porque todo o sangramento que espurgava dela dava-lhe vida. Fazia com que ela conseguisse um melhor ângulo, uma melhor sombra, o melhor traço. Assim se fez.

Todas as rosas que ela podia imaginar cobrindo seu corpo machucado. As nuvens em que se deitaria depois de sentir todo seu líquido sublimar. Todos os sorrisos que ela sentia secretamente, embaixo da escada. Tudo era desenhado e saia de dentro dela, mesmo ouvindo baixinho que "if you feel discoureged there´s a lack of colour here......"
Ela sabia que essa era a única maneira de escapar. E issa era somente dela.
Sentia toda a aflição de sangrar, mas estancaria todas as feridas com os desenhos que ela fez no chão. Peixes estranhos de cores derivadas de todo o vermelho. Eles se movimentavam e lhe sorriam, os traços nervosamente doces e platônicos em um arpégio indefinível. E tudo se fazia na mais perfeita ordem.

Ela desenhou o mundo, seu mundo. Mesmo sentindo seu coração diminuindo por entre batidas cada vez mais esparsas, ela sabia que era preciso fazer daquele corte vida. E foi assim que ela percebeu uma coisa que lhe escapou por quase toda uma eternidade.
Ela era única....
Seu sangue espalhado em formas suaves pelo chão, onde as rosas florescima cada vez mais cheias de pétalas em formas de nuvens que lhe sorriam. Por segundos embaixo da escada, sofrendo a vergonha de mais um dia ser considerada uma aberração, sente seu corpo esvaziar o ódio gota por gota, peixe por peixe.

O apertar de seu corte esparrama tela branca por entre o chão decorado com pontas de cigarro e pedaços de papel. Uma linha escorrendo por entre seus olhos continuamente despejava alívio na forma de marés e ondas que levavam os habitantes que eram nascidos em tons avermelhados, desenhando em cimento uma, ressurreição em nicotina apagada.

Não mais guarda a cerração de alma que lhe corroia a pele, apenas espera o desenho amalgamar-se com o chão quente daquele outubro. Ao apoiar e levantar-se suas mãos trêmulas em êxtase tocam as gotas espalhadas. Filho de sangue querendo voltar para a essência, voltar de onde jamais deveria sair.

Do corpo completo que levitava em direção aos peixes que a salvaram e a lembraram do dia de sua criação.

O oitavo....

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

AGULHAS INCANDESCENTES

Sentiu a gota de suor frio escorrer por entre seus dedos, enquanto calçava o sapato de seu lado direito dominante. O olhar afásico refletido na sombra da janela de madeira vermelha, com suas abas que corriam toda a extensão de seu perímetro. Por muitas vezes elas davam a impressão de braços longos e maternais transbordando um afeto inerte. Longos segundos examinando minuciosamente todo o artefato consumiram parte de seu destino. Peças metálicas, roldanas minúsculas presas por cordões umbilicais de amianto, dispositivo em forma de bolha gástrica em saponáceos alcalóides de alta tensão. Ele examinava tudo minuciosamente e sabia que qualquer descuido poderia ser grave nesse minuto.

Levantou-se e tentou caminhar. Lentos passos barbiturizados da isquemia cerebral proporcionada pelas suas lembranças. Não havia espaço para que percorresse toda a sua vida em segundos. Outrora ouvia histórias de semelhantes seres que na hora do chamado, traziam dentro de suas almas polaróides cinemáticas de vida. Mas não ele, pois era inerte...
Dentro de seu peito apenas um tique taquear de longos suspiros, esparramados em suas duas luvas plásticas pesadas que acomodavam suas mãos trêmulas.

Por mais vontade, não acendeu o cigarro que confortaria seu peito por entre o sangrar de lágrimas. Estava tentando parar.
Em minutos sentia todo o ar da fechada sala milimetricamente correr por seus poros e dissecar cada pedaço daquela sombra que um dia foi algo chamado corpo. Seus pés pronavam ondulações pelos azulejos, que continham desenhos geométricamente postos em sicronia com sua coloração sépia. Sentia seus dedos por dentro das botas, que chegavam até a linha do terço médio de suas pernas, amalgamarem cada centímetro de chão e sabia que enfim sua mobilidade aos poucos voltara. Impávida e atraindo os círculos de poeira cósmica que pairavam por entre as frestas de ar daquele domingo de sol.

Mas algo se fazia descolorir dentro de sua alma e nem ao menos ele poderia dizer o significado para tamanha ilusão de ótica. Tudo ao seu redor enquanto os minutos passavam, tornavasse cada vez mais preto e branco. Coçou seus olhos com as luvas de proteção, mas as imagens não voltavam à coloração normal. Ao olhar para o espaço formado entre a porta e o chão, percebeu que os reflexos também tornaram-se uma tela de cinema dos anos 20. Ouvia o rufar de trompetes e saxofones de uma orquestra regida por um senhor calvo e de alinhado fraque. Balançando sua varinha mágica, enquanto a banda destoava canções caleidoscópicas que penetravam ouvidos de casais vestidos à carater. Um salão enorme ecoava cada clave de sol ao máximo de distorção, onde os passos de dança de um concurso lisérgico, mostravam sorrisos distorcidos e enormes arcadas.

Nesse momento ele sorri, cumprimenta os vencedores e sai pela porta talhada pelas mãos do madeireiro preciso que a construira. Deixando nas laterais detalhes em curvas que formavam espirais descendentes e trôpegas.
Ao fechar a porta seu peito dispara e sabe que não mais voltará, tem a certeza da ida. O suor agora congelado em pedaços de cabelo corrói cada brônquio e espera calmamente sua hora de expiração.
Ele então atravessa a rua cuidadosamente, reve seus passos e como por mágica adentra no primeiro ônibus que vê. Sem destino, sem rumo, sem casa, perdido dentro de memórias que apavorariam o mais corajoso dos seres.

Olha ao redor, rostos julgadores de caráter. Seres semelhantes e tão distantes em afasia, ódio e preconceito. Ele levanta-se e suspira por uma última vez....

"Morram seus conceitos parvos de verdade!!!!!"

O botão pressionado explode, um centímetro acima de sua prega umbilical uma pequena agulha penetra por sua epiderme lentamente, sente-a transpassar por cada milímetro de célula rasgando mitocôndrias que desesperadas excretam pavor pela corrente sanguínea. A agulha loja-se na segunda dobra do intestino delgado e inicia uma série de mitoses que desencadeiam na explosão do útero de alumínio, fazendo com que milhares de outros pequenos objetos perfurantes metalizados comecem uma dança de acasalamento dentro dele. Em seu estômago já não há mais espaço para perfuradoras, que iniciam o caminho de volta da agulha mãe e extravasam da pele para o meio.
Sente cada pedaço de tecido esticar-se e queimar por entre as estocadas perfurantes. Como se pedaços de vidros quentes brotassem por entre sua pele, esparramando sangue, orgãos e vísceras incandescentes ao redor de todos os atônitos ocupantes do ônibus.

Em um total de oito quilos de explosivos, cada nova detonação era sentida em suas entranhas como nascimento de novas agulhas.
Em sua retina grudada de ponta cabeça a memória que ressoava era a polaróide de uma janela de madeira vermelha, onde as tábuas que formavam o desenho quadrilátero do objeto pareciam sorrir em sua direção.
Uma gota de suor aliviante esfriava seu corpo incinerado.....